Jovem surdo e autista rompe barreiras e se torna violeiro em São Carlos, SP

Quem vê os dedos ágeis deslizando rapidamente pelas cordas da viola, fica surpreso ao saber que o responsável pelo som reproduzido nasceu deficiente auditivo devido a um grau leve de autismo. Mas isso não é um problema para João Paulo de Lima, conhecido em São Carlos (SP) como ‘João Violeiro’, um amante da música sertaneja.

A vontade de aprender tocar instrumentos despertou aos 6 anos, inspirada pelo pai músico. “Ele ajoelhava enquanto eu tocava, encostava a caixa do violão no rosto e conseguia ‘ouvir’ através da vibração das cordas, ficava com a cabeça encostada do lado do violão o tempo todo”, contou Edson de Lima.

Hoje, aos 19 anos, João domina as cordas de instrumentos como viola, violão e cavaquinho. Apaixonado por moda de viola, diz que o coração bate mais forte quando começa a tocar. “Eu gosto do sertanejo de raiz, mas toco qualquer música que ouvir”, declarou o músico.

E toca de tudo mesmo, afirmou o pai. “Se você virar e falar toca tal música, ele só precisa ouvir uma ou duas vezes e vai saber tudo que precisa fazer, é um ouvido muito absoluto e uma memória fotográfica, pode-se assim dizer. Ele toca mais de 300 músicas e sabe qualquer uma se ouvir só um pedaço”.

Dificuldade
As dificuldades começaram logo após o nascimento. João foi diagnosticado com autismo por conta da má formação congênita e isso ocasionou a perda da audição. Na infância, ele só fazia leitura labial. “Prestava atenção no que a pessoa estava falando e conseguia entender o que falava, mas ouvir de fato era muito pouco”, explicou a irmã Ana Paula de Lima.

Com o auxílio de uma fonoaudiologia e do aparelho usado para ajudar na surdez, o músico apreendeu a se comunicar com gestos e a dedilhar as cordas dos instrumentos através das vibrações, embora ainda consiga falar e ouvir muito pouco. A música, contudo, foi o fundamental para a parte auditiva.

Com muitas histórias para contar, o pai afirmou que um dos episódios mais impressionantes foi durante uma festa em que uma dupla sertaneja estava tocando. João Paulo estava ‘invocado’ vendo a mulher cantar e tocar violão, mas ninguém entendia o porquê, até que o instrumento foi colocado ao seu lado.

“Ele pegou o violão e viu que a terceira corda estava desafinada, então afinou e devolveu para a cantora, aí então conseguiu se aquietar, mas não deu sossego enquanto não afinou a corda. O ouvido ficou muito preciso com a música, em meio a todo o barulho e confusão daquela festa, ele conseguiu ouvir a corda desafinada e eu fiquei chocado”, relatou Edson.

Rapidez
Durante a entrevista para a EPTV, o repórter Rodrigo Facundes fez um desafio para o músico: colocou uma música sertaneja que João afirmou que não conhecia e, após ouvir um pequeno trecho duas vezes, conseguiu reproduzir o som com perfeição no violão.

Para o pai, esse é um dos maiores motivos para ter orgulho, já que a facilidade em aprender novas músicas e o modo como os instrumentos são tocados também ajudou com a doença.

“Como pai, como amigo e como professor, dá muito orgulho ver ele fazendo o que faz. Algumas coisas da vida a gente ensina, mas outras é ele que está passando para mim porque já me superou bastante e há muito tempo. É uma lição de vida para qualquer pessoa”, contou Edson, emocionado.
(Foto: Felipe Lazzarotto/ EPTV)

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